Ocupando parte do Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e Brasil destaca-se pela grandeza de seus rios, sua fauna e a biodiversidade. Neste contexto o Brasil tem o privilégio de armazenar o maior volume de água doce do planeta.
Dormiu o sono da integridade física até 1726, quando o homem desenvolvimentista iniciou contatos com a população indígena. A religião do homem branco foi usada para iniciar o processo de invasão e destruição do maior patrimônio natural da humanidade, no caso do Brasil iniciou-se em 1727 com a chegada de uma missão Franciscana francesa fazendo contato com os índios Campa, resultando na descoberta do valor comercial da borracha natural.
A partir desta descoberta, a Amazônia brasileira foi entregue nas mãos dos exploradores os quais formaram os seringais, os castanhais, os piaçabais e a exploração do pau-rosa. Para o sucesso dessas empreitadas, várias tribos foram dizimadas e centenas de índios escravizados. O valor e a importância dos produtos retirados da floresta movimentaram a indústria da época e gerou uma corrida rumo à exploração descontrolada e a destruição deste bem comum.
A aceleração deste processo deu-se com a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, pois a indústria exigia maior rapidez na entrega das matérias prima e o transporte fluvial era vagaroso e não atendia a urgência do crescimento industrial e comercial.
Entre as agreções violentas praticadas contra a Amazônia destacam-se: estrada de ferro Madeira-Mamoré, extermínio de tribos indígenas, escravidão dos seringueiros, rodovias perimetral norte, transamazônica BR364, BR174, projetos de assentamento e colonização, projeto polonoroeste, exploração de madeiras nobres sem controle, pecuária, projeto Jarí e rodovia Belém-Brasília.
Os quadros de nº 1 a 10 mostram o primeiro tempo, quando a presença do homem era rara na selva e a natureza com seus milhões de vidas respiravam segurança e liberdade. A harmonia entre os rios, a fauna, a floresta e os povos indígenas transformavam o ambiente em um verdadeiro paraíso.
os quadros 11 e 12 mostram os primeiros contatos da missão católica francesa com os índios campa no médio Juruena - Acre; era o início do segundo tempo de invasão da Amazônia, pois foi a partir destes contatos que acelerou a chegada de estrangeiros e brasileiros e apoderando de grandes glebas de floresta para a formação dos primeiros seringais.
Contribuiram para isso: a primeira guerra mundial, a seca ou estiagem do nordeste, a valorização dos produtos retirados da floresta e a sua importância como matéria-prima, a segunda guerra mundial que levou os soldados da borracha e a monocultura e mecanização da agricultura no sul do país.
Os quadros 13 a 25 mostram a ocupação da floresta pelos seringueiros e suas famílias que mesmo vivendo em regime de escravidão sentiam segurança e liberdade por acreditar que aquela exuberante fonte de riquezas jamais seria ameaçada. Com a desvalorização da borracha os donos dos seringais tornaram-se mais exigentes aumentando assim a escravidão e a miséria entre os seringueiros. Os patrões ensinaram aos seringueiros que os índios eram os inimigos responsáveis por aqulea situação e que deveriam morrer. Foi assim que surgiram os primeiros sindicatos de trabalhadores rurais na região e os seringueiros começaram a se organizar buscando uma solução para tão grandes problemas sociais contra os povos da floresta.
Surgiram muitas lideranças, pessoas comprometidas com o bem estar coletivo e não foram poucos que foram assassinados, porém a organização e conscientização crescia a cada dia.
Entre essas lideranças estavam eu (Jaime da Silva Araújo ou Tyryetê Kaxinawaá), Francisco Mendes Filho (Chico Mendes), padre Joãozinho de Carauarí, Terri, Antonio Macedo, José Saraiva e dezenas de outros companheiros que em suas bases realizavam reuniões com um mesmo objetivo: criar uma instituição que representasse política e juridicamente os seringueiros da Amazônia. Por causa do total abandono das autoridades políticas aos povos da floresta, recebemos apoio total da CPT, do CIMI e das centrais sindicais.
A liderança do Chico Mendes havia crescido assustadoramenre no Acre a ponto de receber a adesão de Marina Silva,Mary Alegretti, Mário Menezes, Mauro Barbosa, Ligia Simoniã e mais de uma centena de outros amigos que nos apoiavam na busca de uma solução plausivel às nossas necessidades. No decorrer das reuniões nos cientificamos da nossa identidade com os índios e então começou a gestação da aliança dos povos da floresta amazônica brasileira. Por causa da identidade dos seringueiros com os povos indígenas, iniciamos a aproximação com os índios o que veio a fortalecer em muito o movimento de organização de base dos seringueiros no Acre, Amazonas e Rondônia.
A exemplo dos índios os seringueiros exigiam a criação de reservas extrativistas para os seringueiros.
Um grupo de 130 pessoas formada de seringueiros, sindicalista, assessores e um padre dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia partiram de Rio Branco - Acre rumo a Brasília para a realização do 1º Encontro Nacional dos Seringueiros no dia 07 de outubro de 1985.
No dia 17 de outubro de 1985 foi criado o C.N.S Conselho Nacional dos Seringueiros do qual fui o primeiro presidente e em março de 1989 nascia a primeira reserva extrativista:
O seringal São Luiz do Remanso foi o pioneiro.
Os quadros 26, 27 e 28 mostram os rastros do progresso capitalista dentro da floresta e os quadros 29 e 30 mostram seringueiros na tribo falando sobre a criação da Aliança dos povos da floresta que foi assinada em novembro de 1987.
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxinawaá
Autor da obra e informante dos dados aqui contidos.
Varal de Poesias
Tyryetê e sua mania de ver o mundo pela ótica do poeta tem resultado em singelas e emocionantes poesias que retratam tanto cotidianos da vida na floresta(seu mundo particular) como expõe seus sentimentos mais nobres na relação com as pessoas.
Viaje com seus olhos pelas palavras que embebesse o coração de um jovem senhor indígena, escolha e sirva-se de sua visão singela.
Viaje com seus olhos pelas palavras que embebesse o coração de um jovem senhor indígena, escolha e sirva-se de sua visão singela.
Oração à seringueira
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Ó rainha seringueira
Mãe leiteira e generosa
Cheia de vida e doçura
És a esperança nossa.
II
Tu e nós abandonados
Vivendo aqui suspirando
Sempre gemendo e sorrindo
Mostrando risos e lágrimas
Na mata és companheira nossa
III
Este teu misericordioso leite
A nós sustenta
Sabes que sofremos juntos
Com palavra sem mistério
Mostramos a todo o mundo
O fruto do vosso leite
A borracha
IV
Ó clemente, piedosa
E sempre verde seringueira
Lutaremos por ti, amiga
Santa mãe de leite
Para que sejamos dignos
Das reservas extrativistas
Amém
Há um líder
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Pátria...
Fogo sagrado!
Deus...
Fogo purificante!
Tu que dormes no lenho
E te elevas brilhante sobre o altar
És o vôo audaz da oração
A centelha divina que arde
Em nossos corações
A alma gloriosa do sol de nossa luta
II
Ó Deus protetor dos homens
Que habitais o palácio celestial
Ora levado pelas nuvens
Ora vestido de azul resplandecente
Deus que habitais acima dos terrestres
Eu vos tomo por testemunha
Que faço uma guerra justa
Na defesa dos sagrados direitos da liberdade indígena.
Triste adeus
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Em homenagem a memória do saudoso Companheiro Francisco Alves
Mendes Filho assassinado no dia 22 de dezembro de 1988 em Xapuri Acre,
sua cidade natal. O meu respeito e reconhecimento à sua luta...
I
Um dia, na semana do Natal
Um grave incidente aconteceu
Um tiro tão certeiro e mortal
O nosso Chico Mendes abateu
Morria ali um grande companheiro
O choro na cidade foi geral
Sua morte abalou o mundo inteiro
Com lágrimas diziam os seringueiros
Adeus nosso querido general.
II
Nasceu em Xapuri, lá na fronteira
Cresceu no seringal, viu a beleza
Na mata abraçava a seringueira
Provando o seu amor á natureza
A coragem era sua companheira
Liderava o seu povo com nobreza
Um dia uma bala traiçoeira
Parou a sua marcha pioneira
Calou sua voz forte e guerreira
III
Adeus meu bom amigo e companheiro
Descansa no teu berço tão amado
Teu sangue imortal, tão brasileiro
Em todas as gerações será lembrado
Serás em nossa luta uma bandeira
Tua voz, eternamente o nosso brado
Repousa na floresta que nasceste
Terás na história do teu povo
Teu nome para sempre consagrado
“ Reencontro”
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Entre a ansiedade e a espera
A presença da incerteza
Entre a emoção e a alegria
O medo da tristeza
O momento do encontro
E a noticia da tragédia
Geram lágrimas duvidosas
Cortam corações a montes
E inundam rostos de parentes
Saudades da Pátria
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Aos irmãos seringueiros brasileiros expulsos de suas terras pelos
latifundiários para o território Boliviano. Vitimas do brutal
extermínio dos seringais e castanhais do Estado do Acre.
I
Ali nós nascemos
Na terra acreana
Ali nós crescemos
Vivendo da mata
Na luta da colha
Cortando seringa
Quebrando castanha
Em busca da vida
Na luta da apanha
II
Floresta amazônica
Tão hospitaleira
Dentro da fogueira
Virando carvão
Estamos sofrendo
Porque estamos vendo
A mata morrendo
Com a grande invasão
III
Veio lá do sul
Um tal fazendeiro
Matar a floresta
E nossa profissão
Na queda da mata
Se vê castanheiras
Se vê seringueiras
Tombadas no chão
IV
Tristeza e saudade
Nós temos demais
Da pátria querida
E dos seringais
Que triste lembrança
Do povo acreano
Aqui só nos chamam
De brasivianos
A viagem do Tempo
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Viajando pelos caminhos que viajei
Encontrei uma pessoa em cada extremo
No primeiro! Um poeta revoltado
No segundo! Um duende emocionado
No primeiro o poeta só gritava
No segundo o duende recitava
O poeta exigia liberdade
O duende exigia igualdade
Na voz do poeta havia dor
Na voz do duende havia amor
O poeta acordava com o gemido
De um povo escravizado e sofredor
De um índio que fugia do horror
De um escravo que apanhava do senhor
O poeta revoltado reclamava
Da senzala, da chibata e do pavor
Que havia no chicote do feitor
O poeta só queria que parasse
Que mudasse, que soltasse e libertasse
Todo índio e todo escravo sofredor
O duende vinha da sociedade
Que vendia, que comprava, que estudava
Que formava os doutores da cidade
Mais falava dos seus nobres sentimentos
Com seus gestos, com ternura com talento
Reclamava para um povo a liberdade
Que lutava, trabalhava, coletava
A borracha pra suprir suas despesas
O duende dentro do seu recital
Escolhia como tema e elegia
Natureza, seringueiro e seringal.
Bastidores Culturais
Poesia Moderna
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Composta por poetas famosos
Com sucesso garantido pelo povo
Quase sempre inspirada no nada
Em homenagem a coisa nenhuma
Pintura moderna
Figurada pela imaginação
No supérfluo simbolismo irreal
Na ausência de uma nobre inspiração
O importante é ser pintor
História moderna
Um místico de poder e anarquia
De conquista pelas manifestações
Onde dinheiro e a burocracia
Interferem nas melhores decisões
Cidade moderna
Cheia de luxo e riquezas
Mansões, palácios, beleza
Mordomias e nobreza
Cercadas pelas favelas
Desemprego e pobreza
Futuro moderno
Estudo, diploma, grandeza
Dinheiro, luxo e lazer
Fama, poder e conforto
Porém quem tem tudo isso
Não tem tempo de viver.
Floresta Amiga
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Em 05/08/2008, Rio Branco – Ac.
Majestosa e grande és tu, floresta
Vegetal magnífico e singular
Eterna primavera da natureza
Celeiro de vidas diferentes
Lenda, mistérios e crendices
Ciência da cultura de uma gente
Com suas flores, frutos e sementes
Os seus córregos de águas corrente
Nos ensina a cultuar tua grandeza
O teu cheiro e o teu jeito provocante
Com tuas árvores fortes e gigantes
Tuas tranças de cipó sempre oscilante
Os teus braços estendidos, hospitaleiros
E tua copa lá no alto vigilante
Abrigando a filharada o ano inteiro
Tuas cobras apressadas rastejantes
As formigas operárias viajantes
Me fizeram teu amigo e teu amante.
Por quê?
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
A ave flutua no espaço
A luz ilumina a escuridão
A água desliza no regaço
O fogo queima a lenha e faz carvão
Assim como o amor provoca o abraço
Sem saber por quê.
O homem tem mania de grandeza
Desenvolve a ciência e a pobreza
Manipula os caminhos da criança
A sombra viaja com o vento
A cobra injeta o seu veneno
Assim como quem recebe ordem
Sem saber por quê.
A natureza cria e oferece
A semente que no fruto nasce e cresce
O rio corre sem parar
Quando chega no mar desaparece
Assim como a flor que cheira e murcha
Sem saber por quê.
Vida como eu você ganhou
Sentimentos desiguais em nós brotou
A floresta que Deus fez você matou
Construiu uma cidade e sujou
E para as futuras gerações
Nada de bom você deixou
“Por quê?”
SÚPLICA
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Novo Aripuanã – AM, 07 de maio de 1983.
Se tocares em minhas mãos
Sentirás os calos
Se olhares em meus pés
Verás as feridas das grandes caminhadas
Se olhares o meu corpo
Constatarás a desnutrição
Se olhares em meu rosto
Verás decepção
Se olhares o meu passado
Encontrarás sofrimento
Se olhares o meu presente
Verás fé e esperança
Se olhares o meu futuro
Verás uma estrada escura
Que leva ao desespero
Mas...
Porque eu disse ‘eu’ se meu nome não é Terceiro Mundo?
E você?
Se sente feliz e seguro
Ajudando a escurecer
Um mundo infeliz e escuro?
Pai Nosso do Seringueiro
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Novo Apurinã – AM, 19 de agosto de1985.
Seringueira que estais na selva
Multiplicados sejam os vossos dias
Venha a nós o vosso leite
Seja feita a nossa borracha
Assim na prensa como na caixa
Para o sustento de nossas famílias
Nos daí hoje e todos os dias
Perdoai nossa ingratidão
Assim como nós perdoamos
As maldades do patrão
E ajudai a nos libertar
Das garras do regatão
Amém!
Os Dez Mandamentos da Amazônia
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
1º. Amarás a Deus sobre todas as coisas e aos rios como a ti mesmo;
2º. Não defenderás a mata em vão! Pois ela te fornece muitos alimentos;
3º. Conservarás as florestas virgens, pois Deus as criou para todos;
4º. Respeitarás a flora, a fauna e todas as formas de vida florestal;
5º. Não matarás, a não ser para alimentação ou por legítima defesa;
6º. Não pecarás contra a natureza destruindo os animais, seus filhos;
7º. Não deixarás os inimigos ferirem teu solo, condenadoo
à esterilidade;
8º. Não trairás os teus princípios, apoiando o falso progresso que justifica os crimes;
9º. Não desejarás para ti, venenos que aumentam a tua produção, mas matam árvores
e os animais;
10º. Não cobiçarás para ti, aparelhos modernos, para não poluir o ar, nem destruir a
paisagem, pois a terra em que vives pertence também aos que ainda não
nasceram.
Estes dez mandamentos se encerram em dois:
Amar a Deus sobre todas as coisas e a Amazônia como a ti mesmo.
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Ó rainha seringueira
Mãe leiteira e generosa
Cheia de vida e doçura
És a esperança nossa.
II
Tu e nós abandonados
Vivendo aqui suspirando
Sempre gemendo e sorrindo
Mostrando risos e lágrimas
Na mata és companheira nossa
III
Este teu misericordioso leite
A nós sustenta
Sabes que sofremos juntos
Com palavra sem mistério
Mostramos a todo o mundo
O fruto do vosso leite
A borracha
IV
Ó clemente, piedosa
E sempre verde seringueira
Lutaremos por ti, amiga
Santa mãe de leite
Para que sejamos dignos
Das reservas extrativistas
Amém
Há um líder
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Pátria...
Fogo sagrado!
Deus...
Fogo purificante!
Tu que dormes no lenho
E te elevas brilhante sobre o altar
És o vôo audaz da oração
A centelha divina que arde
Em nossos corações
A alma gloriosa do sol de nossa luta
II
Ó Deus protetor dos homens
Que habitais o palácio celestial
Ora levado pelas nuvens
Ora vestido de azul resplandecente
Deus que habitais acima dos terrestres
Eu vos tomo por testemunha
Que faço uma guerra justa
Na defesa dos sagrados direitos da liberdade indígena.
Triste adeus
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Em homenagem a memória do saudoso Companheiro Francisco Alves
Mendes Filho assassinado no dia 22 de dezembro de 1988 em Xapuri Acre,
sua cidade natal. O meu respeito e reconhecimento à sua luta...
I
Um dia, na semana do Natal
Um grave incidente aconteceu
Um tiro tão certeiro e mortal
O nosso Chico Mendes abateu
Morria ali um grande companheiro
O choro na cidade foi geral
Sua morte abalou o mundo inteiro
Com lágrimas diziam os seringueiros
Adeus nosso querido general.
II
Nasceu em Xapuri, lá na fronteira
Cresceu no seringal, viu a beleza
Na mata abraçava a seringueira
Provando o seu amor á natureza
A coragem era sua companheira
Liderava o seu povo com nobreza
Um dia uma bala traiçoeira
Parou a sua marcha pioneira
Calou sua voz forte e guerreira
III
Adeus meu bom amigo e companheiro
Descansa no teu berço tão amado
Teu sangue imortal, tão brasileiro
Em todas as gerações será lembrado
Serás em nossa luta uma bandeira
Tua voz, eternamente o nosso brado
Repousa na floresta que nasceste
Terás na história do teu povo
Teu nome para sempre consagrado
“ Reencontro”
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Entre a ansiedade e a espera
A presença da incerteza
Entre a emoção e a alegria
O medo da tristeza
O momento do encontro
E a noticia da tragédia
Geram lágrimas duvidosas
Cortam corações a montes
E inundam rostos de parentes
Saudades da Pátria
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Aos irmãos seringueiros brasileiros expulsos de suas terras pelos
latifundiários para o território Boliviano. Vitimas do brutal
extermínio dos seringais e castanhais do Estado do Acre.
I
Ali nós nascemos
Na terra acreana
Ali nós crescemos
Vivendo da mata
Na luta da colha
Cortando seringa
Quebrando castanha
Em busca da vida
Na luta da apanha
II
Floresta amazônica
Tão hospitaleira
Dentro da fogueira
Virando carvão
Estamos sofrendo
Porque estamos vendo
A mata morrendo
Com a grande invasão
III
Veio lá do sul
Um tal fazendeiro
Matar a floresta
E nossa profissão
Na queda da mata
Se vê castanheiras
Se vê seringueiras
Tombadas no chão
IV
Tristeza e saudade
Nós temos demais
Da pátria querida
E dos seringais
Que triste lembrança
Do povo acreano
Aqui só nos chamam
De brasivianos
A viagem do Tempo
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Viajando pelos caminhos que viajei
Encontrei uma pessoa em cada extremo
No primeiro! Um poeta revoltado
No segundo! Um duende emocionado
No primeiro o poeta só gritava
No segundo o duende recitava
O poeta exigia liberdade
O duende exigia igualdade
Na voz do poeta havia dor
Na voz do duende havia amor
O poeta acordava com o gemido
De um povo escravizado e sofredor
De um índio que fugia do horror
De um escravo que apanhava do senhor
O poeta revoltado reclamava
Da senzala, da chibata e do pavor
Que havia no chicote do feitor
O poeta só queria que parasse
Que mudasse, que soltasse e libertasse
Todo índio e todo escravo sofredor
O duende vinha da sociedade
Que vendia, que comprava, que estudava
Que formava os doutores da cidade
Mais falava dos seus nobres sentimentos
Com seus gestos, com ternura com talento
Reclamava para um povo a liberdade
Que lutava, trabalhava, coletava
A borracha pra suprir suas despesas
O duende dentro do seu recital
Escolhia como tema e elegia
Natureza, seringueiro e seringal.
Bastidores Culturais
Poesia Moderna
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Composta por poetas famosos
Com sucesso garantido pelo povo
Quase sempre inspirada no nada
Em homenagem a coisa nenhuma
Pintura moderna
Figurada pela imaginação
No supérfluo simbolismo irreal
Na ausência de uma nobre inspiração
O importante é ser pintor
História moderna
Um místico de poder e anarquia
De conquista pelas manifestações
Onde dinheiro e a burocracia
Interferem nas melhores decisões
Cidade moderna
Cheia de luxo e riquezas
Mansões, palácios, beleza
Mordomias e nobreza
Cercadas pelas favelas
Desemprego e pobreza
Futuro moderno
Estudo, diploma, grandeza
Dinheiro, luxo e lazer
Fama, poder e conforto
Porém quem tem tudo isso
Não tem tempo de viver.
Floresta Amiga
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Em 05/08/2008, Rio Branco – Ac.
Majestosa e grande és tu, floresta
Vegetal magnífico e singular
Eterna primavera da natureza
Celeiro de vidas diferentes
Lenda, mistérios e crendices
Ciência da cultura de uma gente
Com suas flores, frutos e sementes
Os seus córregos de águas corrente
Nos ensina a cultuar tua grandeza
O teu cheiro e o teu jeito provocante
Com tuas árvores fortes e gigantes
Tuas tranças de cipó sempre oscilante
Os teus braços estendidos, hospitaleiros
E tua copa lá no alto vigilante
Abrigando a filharada o ano inteiro
Tuas cobras apressadas rastejantes
As formigas operárias viajantes
Me fizeram teu amigo e teu amante.
Por quê?
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
A ave flutua no espaço
A luz ilumina a escuridão
A água desliza no regaço
O fogo queima a lenha e faz carvão
Assim como o amor provoca o abraço
Sem saber por quê.
O homem tem mania de grandeza
Desenvolve a ciência e a pobreza
Manipula os caminhos da criança
A sombra viaja com o vento
A cobra injeta o seu veneno
Assim como quem recebe ordem
Sem saber por quê.
A natureza cria e oferece
A semente que no fruto nasce e cresce
O rio corre sem parar
Quando chega no mar desaparece
Assim como a flor que cheira e murcha
Sem saber por quê.
Vida como eu você ganhou
Sentimentos desiguais em nós brotou
A floresta que Deus fez você matou
Construiu uma cidade e sujou
E para as futuras gerações
Nada de bom você deixou
“Por quê?”
SÚPLICA
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Novo Aripuanã – AM, 07 de maio de 1983.
Se tocares em minhas mãos
Sentirás os calos
Se olhares em meus pés
Verás as feridas das grandes caminhadas
Se olhares o meu corpo
Constatarás a desnutrição
Se olhares em meu rosto
Verás decepção
Se olhares o meu passado
Encontrarás sofrimento
Se olhares o meu presente
Verás fé e esperança
Se olhares o meu futuro
Verás uma estrada escura
Que leva ao desespero
Mas...
Porque eu disse ‘eu’ se meu nome não é Terceiro Mundo?
E você?
Se sente feliz e seguro
Ajudando a escurecer
Um mundo infeliz e escuro?
Pai Nosso do Seringueiro
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Novo Apurinã – AM, 19 de agosto de1985.
Seringueira que estais na selva
Multiplicados sejam os vossos dias
Venha a nós o vosso leite
Seja feita a nossa borracha
Assim na prensa como na caixa
Para o sustento de nossas famílias
Nos daí hoje e todos os dias
Perdoai nossa ingratidão
Assim como nós perdoamos
As maldades do patrão
E ajudai a nos libertar
Das garras do regatão
Amém!
Os Dez Mandamentos da Amazônia
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
1º. Amarás a Deus sobre todas as coisas e aos rios como a ti mesmo;
2º. Não defenderás a mata em vão! Pois ela te fornece muitos alimentos;
3º. Conservarás as florestas virgens, pois Deus as criou para todos;
4º. Respeitarás a flora, a fauna e todas as formas de vida florestal;
5º. Não matarás, a não ser para alimentação ou por legítima defesa;
6º. Não pecarás contra a natureza destruindo os animais, seus filhos;
7º. Não deixarás os inimigos ferirem teu solo, condenadoo
à esterilidade;
8º. Não trairás os teus princípios, apoiando o falso progresso que justifica os crimes;
9º. Não desejarás para ti, venenos que aumentam a tua produção, mas matam árvores
e os animais;
10º. Não cobiçarás para ti, aparelhos modernos, para não poluir o ar, nem destruir a
paisagem, pois a terra em que vives pertence também aos que ainda não
nasceram.
Estes dez mandamentos se encerram em dois:
Amar a Deus sobre todas as coisas e a Amazônia como a ti mesmo.
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