JAIME DA SILVA ARAÚJO - TYRYETÊ KAXINAWÁ

JAIME DA SILVA ARAÚJO - TYRYETÊ KAXINAWÁ
Fundação Tyryetê kaxinawá é um grupo de amigos que tem como finalidade principal trabalhar a consciência ambiental pela participação lúdica de todos, no sentido da influência recíproca homem / meio-ambiente.
Considerando Meio Ambiente como:
TUDO que relaciona o homem à VIDA !
Atuamos em 4 eixos:
Programa ABR - Amigos Brincando e Reciclando
Geração de Renda -
Espaços Sustentáveis -
Acervo artístico e cultural dos povos da floresta
MISSÃO:
Nossa proposta é atender a necessidade de mudança de comportamento recomendada pela UNESCO, no trato da questão ambiental sob as perspectivas cultural, educacional, econômica e psicológica.
VISÃO DE FUTURO:
Pretendemos constituir modelos de atuação no foco do desenvolvimento sustentável, estendendo-se além da área escolar para condomínios, clubes sociais, organizações, etc.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mobilização: Vida e obra de Tyryetê Kaxynawaá

01/03/07
Mobilização: Vida e obra de Tyryetê Kaxynawaá

por Daniela Diniz *

Ao buscar histórias para este trabalho, eu não poderia imaginar que entre os frios ventos de uma Curitiba subtropical, fosse possível encontrar a narrativa de um índio nascido na selva amazônica e criado entre os seringais do Acre e o sertão do Ceará. Isto aconteceu quando entrei em contato com a Malasartes, Instituição da Audiência Compartilhada do Paraná. Quando falei do trabalho da mobilização comunitária do Futura, imediatamente me falaram de Tyryetê Kaxynawaá, um índio com muitas histórias para compartilhar e muita arte para exibir.

O trabalho de entrevista e levantamento geral de informações foi uma experiência inovadora, enriquecedora pela quantidade de novas informações sobre histórias conhecidas do nosso país e inspiradora, por poder ver uma pessoa comum que cresceu, enfrentou problemas, levantou-se, cresceu novamente, repetindo este ciclo de forma positiva, entendendo que esse processo faz parte do belo equilíbrio da vida de uma pessoa.

Sua vida começou na tribo Kaxynawaá, localizada às margens do Alto Rio Jordão no sudeste do Amazonas. Com a morte de sua mãe durante o parto, ele foi entregue pelo pai para um casal de seringueiros, que acabou levando-o para o sertão do Ceará. Aos 19 anos voltou para a sua tribo em busca das raízes, mas o convívio de quase duas décadas na sociedade branca dificultou muito a sua reintegração.

Neste retorno, conseguiu usar o conhecimento adquirido em sua criação nordestina para lutar pelos direitos dos povos da floresta, envolvendo-se em diversas questões políticas ligadas às causas dos seringueiros, culminando com sua participação nas propostas governamentais de criação de reservas extrativistas no 1° Encontro Nacional de Seringueiros. A conseqüência deste processo foi um convite para publicar seu discurso no livro Por um futuro melhor, e o início da disseminação de sua arte.

A vida política o levou a morar em Novo Aripuanã, às margens do Rio Madeira, onde tornou-se presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, fundou o Partido dos Trabalhadores e também uma Associação de Proteção ao Consumidor. Esta movimentação profissional levou-o a ser requisitado como representante em diversos encontros e seminários sobre a Amazônia naa América Latina e na Europa, além de ser um palestrante habitual na Universidade de Brasília.

Esta vida de lutas gerou uma grande contribuição para a preservação das matas e da atividade econômica de muita gente feita pela exploração sustentável dos recursos naturais, que hoje é buscada através da manutenção de 21 reservas extrativistas somente na Amazônia, além de ter possibilitado que fosse criada uma nova relação entre os seringueiros e os índios, que buscam a mesma coisa: conservar a biodiversidade da floresta e dos povos.

O passar dos anos o levou a conhecer Maria Alegrete, que de Curitiba dava apoio aos seringueiros e fundou o Instituto de Estudos Amazônicos, focado na assessoria a estes profissionais. O assassinato de Chico Mendes em 1989 levou Jaime Lerner – prefeito de Curitiba na ocasião – a requisitar o auxílio de Maria Alegrete para homenagear a trajetória deste seringueiro, criando a Casa do Seringueiro, a Escola Amazônica e o Memorial Chico Mendes dentro do Bosque Gutierrez, localizado no Bairro das Mercês. Tyryetê Kaxynawaá foi convidado por Maria Alegrete a participar deste projeto, indo morar na capital do Paraná e coordenando as atividades de educação, exposições e lazer que aconteciam nestas unidades.

Os anos seguintes não foram gentis para Tyryetê Kaxynawaá. A continuidade do projeto foi comprometida por questões políticas e o Instituto de Estudos Amazônicos acabou fechando suas atividades, encerrando um ciclo de iniciativas culturais em que Tyryetê estava envolvido. Desde 1994 ele está desempregado, buscando uma forma de voltar para a Amazônia e viver seus últimos anos junto da terra onde aprendeu a lutar pelos direitos dos povos da floresta.

A arte dos seringais levada ao Paraná

A arte nasceu na trajetória de Tyryetê Kaxynawaá como uma necessidade de comunicar, expressar e compartilhar suas idéias. Ao contrário de movimentos artísticos iniciados por motivações sociais ou comportamentos de uma época, a arte por ele praticada guarda semelhanças com a que foi criada pelos egípcios, babilônicos e nossas próprias tribos indígenas, com base na necessidade de preservar sua cultura através da impressão de histórias nos objetos de seu cotidiano.

Aprendendo a desenhar para fazer a capa de seus próprios livros, usou elementos aprendidos em sua juventude nordestina para contar histórias em forma de Cordel. Fez poesias para a cidade de Brasília e ilustrou diversos livros durante o período em que trabalhou no Departamento Nacional de Cooperativismo (DENACOP, órgão do Ministério da Agricultura), criando o calendário “O Ano Agrícola”.

Possibilidades de Aplicação

Em uma sociedade como a nossa, onde muitas vezes a beleza percebida pela maioria da sociedade está estruturada em revistas de moda, em programas que criam celebridades efêmeras e um exagero de preocupação que às vezes até à morte pode levar, a arte desenvolvida por um homem que navega entre dois mundos desponta como uma visão diferente da beleza.

As histórias contadas por Tyryetê Kaxynawaá mostram um Brasil singular, forte e sensível. Essa produção toda pode ser usada como conteúdo para a programação do Canal Futura em várias temáticas complementares, não somente voltadas para questões indígenas.

Através de um projeto de estudo e disseminação da arte dos povos da floresta, este tema pode ser trabalhado, fazendo uma associação entre a produção cultural da Região Amazônica e a visão dos brasileiros sobre este resultado. É possível que tenhamos excelentes surpresas ao perceber que a Festa do Boi é somente uma ponta deste gigantesco caldeirão cultural que foi formado ao juntarmos índios e brancos no interior da mata.

* Daniela Diniz é mobilizadora regional do Canal Futura no Paraná.
















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