JAIME DA SILVA ARAÚJO - TYRYETÊ KAXINAWÁ

JAIME DA SILVA ARAÚJO - TYRYETÊ KAXINAWÁ
Fundação Tyryetê kaxinawá é um grupo de amigos que tem como finalidade principal trabalhar a consciência ambiental pela participação lúdica de todos, no sentido da influência recíproca homem / meio-ambiente.
Considerando Meio Ambiente como:
TUDO que relaciona o homem à VIDA !
Atuamos em 4 eixos:
Programa ABR - Amigos Brincando e Reciclando
Geração de Renda -
Espaços Sustentáveis -
Acervo artístico e cultural dos povos da floresta
MISSÃO:
Nossa proposta é atender a necessidade de mudança de comportamento recomendada pela UNESCO, no trato da questão ambiental sob as perspectivas cultural, educacional, econômica e psicológica.
VISÃO DE FUTURO:
Pretendemos constituir modelos de atuação no foco do desenvolvimento sustentável, estendendo-se além da área escolar para condomínios, clubes sociais, organizações, etc.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

EXPOSIÇÃO VIDA FLORESTA E FAUNA - TYRYETÊ KAXINAWAÁ/ JAIME DA SILVA ARAÚJO

NOSSO AGRADECIMENTO

O Grupo ABR agradece o apoio recebido das instituições para a realização da exposição no Museu Botânico em Curitiba no periodo de 29 de maio a 06 de junho de 2010. Há cerca de 06 anos estamos trabalhando no desenvolvimento de uma idéia inovadora e na sua validação, que é, em atenção a uma recomendação da UNESCO, ESTIMULAR UM NOVO PADRÃO DE COMPORTAMENTO NO TRATO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS, COMO PREMISSA PARA UMA CAMINHADA DE SUCESSO NESTE ÂMBITO. Além disso, nossas atividades visam colaborar para o cumprimento do 7º Objetivo do Milênio - Qualidade de Vida e Respeito ao Meio Ambiente, assim como também estamos presentes no AEL Arranjo Educativo Local/SESI e na Escola de Redes. Certamente, nessa trajetória até aqui, sua organização por meio de sua parceria e de sua equipe tem contribuido para fazer a diferença na realização de nossas atividades. Aproveitamos o ensejo para ratificar nossa sincera e profunda gratidão ao gesto de entendimento e apoio recebidos.

O EVENTO


Meio ambiente é um assunto planetário e inter-raças. Nesse espirito o Grupo ABR em parceria com a Prefeitura Municipal de Curitiba através do Museu Botânico e o MAE Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, promoveu uma exposição comemorativa da Semana Mundial do Meio Ambiente que culminou com o dia Mundial do Meio Ambiente dia 05 de junho.
O evento teve o apoio do Programa Comunidade Escola da Prefeitura Municipal de Curitiba do Programa de Empreendedorismo Social do Sistema SESI/FIEP, da JAD Juca Arranjos e Decorações e da Organização F9 Identidade Visual.
Na oportunidade foi exposta a coleção "Jaime da Silva Araújo" do acervo do MAE/UFPR trata-se de uma obra do indígena TYRYETÊ (Jaime da Silva Araújo) da tribo kaxinawaá, colaborador do Grupo ABR , ambientalista, companheiro de Chico Mendes, ex-presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros, artista plástico autodidata e poeta, entre outros perfis profissionais.
Através de suas criações (sobretudo pintura e poesias), atua na defesa e preservação da cultura amazônica, chamando a atenção para a causa da exterminação da população e cultura indígenas.
Também foi apresentado um varal de poesias. de sua autoria, além de um pré-lançamento de cartões postais feitos artesanalmente, retratando a floresta e a fauna amazônica.
Demonstração de oficinas com metodologia ABR de Tecnologia Social como:
Reutilização de flores "Ciclo da Natureza"
Reaproveitamento de Resíduos (contas de papel)
Agradecemos a todos que se fizeram presentes e que nos apoiaram para a realização deste evento e um agradecimento especial a Ângela e a Clarice (coordenadoras do espaço no Museu Botânico) pela competência e carinho com que conduziram para que tudo desse certo.

EXPOSIÇÃO COLEÇÃO VIDA - FLORESTA E FAUNA

Quando os portugueses se aproximaram deste paraíso o reconheceram pelo verde, verde que durante esta semana comemoraremos com o título de Semana do Meio Ambiente.
Meio ambiente é um assunto planetário, e para um indígena como eu, está muito relacionado à floresta com suas vidas, suas lendas e seus mistérios. Que se junte o brasileiro do norte a sul na luta em defesa das florestas brasileiras - Cerrado - Mata Atlântica e Floresta Tropical, para que nossas crianças tenham a oportunidade de conhecer as riquezas de nossa fauna.
Todos nós sabemos da importância das pesquisas científicas, e também sabemos da importância dos bancos de biodiversidade para os pesquisadores. Esses bancos encontram-se nas florestas onde estão os verdadeiros sentidos da palavra meio ambiente.
Você está convidado para durante esta semana dedicada as riquezas deste Planeta, a passear comigo no Alto Rio Jordão para ver milhões de vidas animal e vegetal, lhe oferecendo o silêncio e a paz que curam a sua alma, o cheiro de um perfume que não há outro igual, o som maravilhoso de uma música suave que vem do biquinho de pequenas aves e a voz das águas correndo no rio anunciando que ANHANGÁ vai tomar banho antes de GUARACY partir. Enfim, é nessas florestas que estão as raízes do Brasil, pois o maior rio do mundo em volume d'água doce corta nossas florestas.

Com carinho
Tyryetê Kaxinawaá


Alguns comentários dos visitantes:

Adoramos estar aqui e participar. Adoramos a natureza. Parabéns pela iniciativa.
Lika e Ingrid

Espetacular!
Wilmar Machiaveli (colecionador)

Adorei o trabalho com a reciclagem das flores, parabéns!
Rosi Mari Vogel

Adorei o trabalho, parabéns pelo que vocês fazem.
João Gabriel Chilo

Gostamos muito do trabalho do Grupo ABR, é ensinando que teremos um futuro sustentável.
Celita Souza e Marco Antonio.

Instantes como estes nos reportam à paz dos sentidos, a valorização da vida. Obrigada!
Tânia Biacchi

Achei muito legal, boa idéia, poderiam fazer em Itajaí.
Silvana.

De pensamentos e ações a Terra agradece!
Miriam Pelanda.

Eu gostei muito e a gente fe\ umas rosas e fizemos pinturas com as pétalas. Eu gostei muito...muito e muito e a mulher que nos atendeu era muito legal.
Isabela - 08 anos - Escola: A Mão Cooperadora.

Eu gostei muito...muito daqui e da mulher que nos atendeu e nos ensinou.
Camila Staben - Escola Municipal João Leopoldo Jacomel



sábado, 5 de junho de 2010

A MAZÔNIA EM 3 TEMPOS E VARAL DE POESIAS

Há três séculos se fala que as florestas garantem o equilíbrio ecológico no planeta e a bacia Amazônica sempre foi a maior floresta tropical do mundo.
Ocupando parte do Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e Brasil destaca-se pela grandeza de seus rios, sua fauna e a biodiversidade. Neste contexto o Brasil tem o privilégio de armazenar o maior volume de água doce do planeta.
Dormiu o sono da integridade física até 1726, quando o homem desenvolvimentista iniciou contatos com a população indígena. A religião do homem branco foi usada para iniciar o processo de invasão e destruição do maior patrimônio natural da humanidade, no caso do Brasil iniciou-se em 1727 com a chegada de uma missão Franciscana francesa fazendo contato com os índios Campa, resultando na descoberta do valor comercial da borracha natural.
A partir desta descoberta, a Amazônia brasileira foi entregue nas mãos dos exploradores os quais formaram os seringais, os castanhais, os piaçabais e a exploração do pau-rosa. Para o sucesso dessas empreitadas, várias tribos foram dizimadas e centenas de índios escravizados. O valor e a importância dos produtos retirados da floresta movimentaram a indústria da época e gerou uma corrida rumo à exploração descontrolada e a destruição deste bem comum.
A aceleração deste processo deu-se com a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, pois a indústria exigia maior rapidez na entrega das matérias prima e o transporte fluvial era vagaroso e não atendia a urgência do crescimento industrial e comercial.
Entre as agreções violentas praticadas contra a Amazônia destacam-se: estrada de ferro Madeira-Mamoré, extermínio de tribos indígenas, escravidão dos seringueiros, rodovias perimetral norte, transamazônica BR364, BR174, projetos de assentamento e colonização, projeto polonoroeste, exploração de madeiras nobres sem controle, pecuária, projeto Jarí e rodovia Belém-Brasília.
Os quadros de nº 1 a 10 mostram o primeiro tempo, quando a presença do homem era rara na selva e a natureza com seus milhões de vidas respiravam segurança e liberdade. A harmonia entre os rios, a fauna, a floresta e os povos indígenas transformavam o ambiente em um verdadeiro paraíso.
os quadros 11 e 12 mostram os primeiros contatos da missão católica francesa com os índios campa no médio Juruena - Acre; era o início do segundo tempo de invasão da Amazônia, pois foi a partir destes contatos que acelerou a chegada de estrangeiros e brasileiros e apoderando de grandes glebas de floresta para a formação dos primeiros seringais.
Contribuiram para isso: a primeira guerra mundial, a seca ou estiagem do nordeste, a valorização dos produtos retirados da floresta e a sua importância como matéria-prima, a segunda guerra mundial que levou os soldados da borracha e a monocultura e mecanização da agricultura no sul do país.
Os quadros 13 a 25 mostram a ocupação da floresta pelos seringueiros e suas famílias que mesmo vivendo em regime de escravidão sentiam segurança e liberdade por acreditar que aquela exuberante fonte de riquezas jamais seria ameaçada. Com a desvalorização da borracha os donos dos seringais tornaram-se mais exigentes aumentando assim a escravidão e a miséria entre os seringueiros. Os patrões ensinaram aos seringueiros que os índios eram os inimigos responsáveis por aqulea situação e que deveriam morrer. Foi assim que surgiram os primeiros sindicatos de trabalhadores rurais na região e os seringueiros começaram a se organizar buscando uma solução para tão grandes problemas sociais contra os povos da floresta.
Surgiram muitas lideranças, pessoas comprometidas com o bem estar coletivo e não foram poucos que foram assassinados, porém a organização e conscientização crescia a cada dia.
Entre essas lideranças estavam eu (Jaime da Silva Araújo ou Tyryetê Kaxinawaá), Francisco Mendes Filho (Chico Mendes), padre Joãozinho de Carauarí, Terri, Antonio Macedo, José Saraiva e dezenas de outros companheiros que em suas bases realizavam reuniões com um mesmo objetivo: criar uma instituição que representasse política e juridicamente os seringueiros da Amazônia. Por causa do total abandono das autoridades políticas aos povos da floresta, recebemos apoio total da CPT, do CIMI e das centrais sindicais.
A liderança do Chico Mendes havia crescido assustadoramenre no Acre a ponto de receber a adesão de Marina Silva,Mary Alegretti, Mário Menezes, Mauro Barbosa, Ligia Simoniã e mais de uma centena de outros amigos que nos apoiavam na busca de uma solução plausivel às nossas necessidades. No decorrer das reuniões nos cientificamos da nossa identidade com os índios e então começou a gestação da aliança dos povos da floresta amazônica brasileira. Por causa da identidade dos seringueiros com os povos indígenas, iniciamos a aproximação com os índios o que veio a fortalecer em muito o movimento de organização de base dos seringueiros no Acre, Amazonas e Rondônia.
A exemplo dos índios os seringueiros exigiam a criação de reservas extrativistas para os seringueiros.
Um grupo de 130 pessoas formada de seringueiros, sindicalista, assessores e um padre dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia partiram de Rio Branco - Acre rumo a Brasília para a realização do 1º Encontro Nacional dos Seringueiros no dia 07 de outubro de 1985.
No dia 17 de outubro de 1985 foi criado o C.N.S Conselho Nacional dos Seringueiros do qual fui o primeiro presidente e em março de 1989 nascia a primeira reserva extrativista:
O seringal São Luiz do Remanso foi o pioneiro.
Os quadros 26, 27 e 28 mostram os rastros do progresso capitalista dentro da floresta e os quadros 29 e 30 mostram seringueiros na tribo falando sobre a criação da Aliança dos povos da floresta que foi assinada em novembro de 1987.


Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxinawaá
Autor da obra e informante dos dados aqui contidos.

Varal de Poesias

Tyryetê e sua mania de ver o mundo pela ótica do poeta tem resultado em singelas e emocionantes poesias que retratam tanto cotidianos da vida na floresta(seu mundo particular) como expõe seus sentimentos mais nobres na relação com as pessoas.
Viaje com seus olhos pelas palavras que embebesse o coração de um jovem senhor indígena, escolha e sirva-se de sua visão singela.


Oração à seringueira
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá

I
Ó rainha seringueira
Mãe leiteira e generosa
Cheia de vida e doçura
És a esperança nossa.
II
Tu e nós abandonados
Vivendo aqui suspirando
Sempre gemendo e sorrindo
Mostrando risos e lágrimas
Na mata és companheira nossa
III
Este teu misericordioso leite
A nós sustenta
Sabes que sofremos juntos
Com palavra sem mistério
Mostramos a todo o mundo
O fruto do vosso leite
A borracha
IV
Ó clemente, piedosa
E sempre verde seringueira
Lutaremos por ti, amiga
Santa mãe de leite
Para que sejamos dignos
Das reservas extrativistas
Amém


Há um líder
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá


I
Pátria...
Fogo sagrado!
Deus...
Fogo purificante!
Tu que dormes no lenho
E te elevas brilhante sobre o altar
És o vôo audaz da oração
A centelha divina que arde
Em nossos corações
A alma gloriosa do sol de nossa luta
II
Ó Deus protetor dos homens
Que habitais o palácio celestial
Ora levado pelas nuvens
Ora vestido de azul resplandecente
Deus que habitais acima dos terrestres
Eu vos tomo por testemunha
Que faço uma guerra justa
Na defesa dos sagrados direitos da liberdade indígena.


Triste adeus
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Em homenagem a memória do saudoso Companheiro Francisco Alves
Mendes Filho assassinado no dia 22 de dezembro de 1988 em Xapuri Acre,
sua cidade natal. O meu respeito e reconhecimento à sua luta...


I
Um dia, na semana do Natal
Um grave incidente aconteceu
Um tiro tão certeiro e mortal
O nosso Chico Mendes abateu
Morria ali um grande companheiro
O choro na cidade foi geral
Sua morte abalou o mundo inteiro
Com lágrimas diziam os seringueiros
Adeus nosso querido general.
II
Nasceu em Xapuri, lá na fronteira
Cresceu no seringal, viu a beleza
Na mata abraçava a seringueira
Provando o seu amor á natureza
A coragem era sua companheira
Liderava o seu povo com nobreza
Um dia uma bala traiçoeira
Parou a sua marcha pioneira
Calou sua voz forte e guerreira
III
Adeus meu bom amigo e companheiro
Descansa no teu berço tão amado
Teu sangue imortal, tão brasileiro
Em todas as gerações será lembrado
Serás em nossa luta uma bandeira
Tua voz, eternamente o nosso brado
Repousa na floresta que nasceste
Terás na história do teu povo
Teu nome para sempre consagrado


“ Reencontro”
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
I
Entre a ansiedade e a espera
A presença da incerteza
Entre a emoção e a alegria
O medo da tristeza
O momento do encontro
E a noticia da tragédia
Geram lágrimas duvidosas
Cortam corações a montes
E inundam rostos de parentes


Saudades da Pátria
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Aos irmãos seringueiros brasileiros expulsos de suas terras pelos
latifundiários para o território Boliviano. Vitimas do brutal
extermínio dos seringais e castanhais do Estado do Acre.
I
Ali nós nascemos
Na terra acreana
Ali nós crescemos
Vivendo da mata
Na luta da colha
Cortando seringa
Quebrando castanha
Em busca da vida
Na luta da apanha
II
Floresta amazônica
Tão hospitaleira
Dentro da fogueira
Virando carvão
Estamos sofrendo
Porque estamos vendo
A mata morrendo
Com a grande invasão
III
Veio lá do sul
Um tal fazendeiro
Matar a floresta
E nossa profissão
Na queda da mata
Se vê castanheiras
Se vê seringueiras
Tombadas no chão
IV
Tristeza e saudade
Nós temos demais
Da pátria querida
E dos seringais
Que triste lembrança
Do povo acreano
Aqui só nos chamam
De brasivianos


A viagem do Tempo
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá


Viajando pelos caminhos que viajei
Encontrei uma pessoa em cada extremo
No primeiro! Um poeta revoltado
No segundo! Um duende emocionado
No primeiro o poeta só gritava
No segundo o duende recitava
O poeta exigia liberdade
O duende exigia igualdade
Na voz do poeta havia dor
Na voz do duende havia amor
O poeta acordava com o gemido
De um povo escravizado e sofredor
De um índio que fugia do horror
De um escravo que apanhava do senhor
O poeta revoltado reclamava
Da senzala, da chibata e do pavor
Que havia no chicote do feitor
O poeta só queria que parasse
Que mudasse, que soltasse e libertasse
Todo índio e todo escravo sofredor
O duende vinha da sociedade
Que vendia, que comprava, que estudava
Que formava os doutores da cidade
Mais falava dos seus nobres sentimentos
Com seus gestos, com ternura com talento
Reclamava para um povo a liberdade
Que lutava, trabalhava, coletava
A borracha pra suprir suas despesas
O duende dentro do seu recital
Escolhia como tema e elegia
Natureza, seringueiro e seringal.
Bastidores Culturais


Poesia Moderna
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá

Composta por poetas famosos
Com sucesso garantido pelo povo
Quase sempre inspirada no nada
Em homenagem a coisa nenhuma
Pintura moderna
Figurada pela imaginação
No supérfluo simbolismo irreal
Na ausência de uma nobre inspiração
O importante é ser pintor
História moderna
Um místico de poder e anarquia
De conquista pelas manifestações
Onde dinheiro e a burocracia
Interferem nas melhores decisões
Cidade moderna
Cheia de luxo e riquezas
Mansões, palácios, beleza
Mordomias e nobreza
Cercadas pelas favelas
Desemprego e pobreza
Futuro moderno
Estudo, diploma, grandeza
Dinheiro, luxo e lazer
Fama, poder e conforto
Porém quem tem tudo isso
Não tem tempo de viver.


Floresta Amiga
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Em 05/08/2008, Rio Branco – Ac.

Majestosa e grande és tu, floresta
Vegetal magnífico e singular
Eterna primavera da natureza
Celeiro de vidas diferentes
Lenda, mistérios e crendices
Ciência da cultura de uma gente
Com suas flores, frutos e sementes
Os seus córregos de águas corrente
Nos ensina a cultuar tua grandeza
O teu cheiro e o teu jeito provocante
Com tuas árvores fortes e gigantes
Tuas tranças de cipó sempre oscilante
Os teus braços estendidos, hospitaleiros
E tua copa lá no alto vigilante
Abrigando a filharada o ano inteiro
Tuas cobras apressadas rastejantes
As formigas operárias viajantes
Me fizeram teu amigo e teu amante.


Por quê?
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá

A ave flutua no espaço
A luz ilumina a escuridão
A água desliza no regaço
O fogo queima a lenha e faz carvão
Assim como o amor provoca o abraço
Sem saber por quê.
O homem tem mania de grandeza
Desenvolve a ciência e a pobreza
Manipula os caminhos da criança
A sombra viaja com o vento
A cobra injeta o seu veneno
Assim como quem recebe ordem
Sem saber por quê.
A natureza cria e oferece
A semente que no fruto nasce e cresce
O rio corre sem parar
Quando chega no mar desaparece
Assim como a flor que cheira e murcha
Sem saber por quê.
Vida como eu você ganhou
Sentimentos desiguais em nós brotou
A floresta que Deus fez você matou
Construiu uma cidade e sujou
E para as futuras gerações
Nada de bom você deixou
“Por quê?”


SÚPLICA
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Novo Aripuanã – AM, 07 de maio de 1983.


Se tocares em minhas mãos
Sentirás os calos
Se olhares em meus pés
Verás as feridas das grandes caminhadas
Se olhares o meu corpo
Constatarás a desnutrição
Se olhares em meu rosto
Verás decepção
Se olhares o meu passado
Encontrarás sofrimento
Se olhares o meu presente
Verás fé e esperança
Se olhares o meu futuro
Verás uma estrada escura
Que leva ao desespero
Mas...
Porque eu disse ‘eu’ se meu nome não é Terceiro Mundo?
E você?
Se sente feliz e seguro
Ajudando a escurecer
Um mundo infeliz e escuro?


Pai Nosso do Seringueiro
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá
Novo Apurinã – AM, 19 de agosto de1985.


Seringueira que estais na selva
Multiplicados sejam os vossos dias
Venha a nós o vosso leite
Seja feita a nossa borracha
Assim na prensa como na caixa
Para o sustento de nossas famílias
Nos daí hoje e todos os dias
Perdoai nossa ingratidão
Assim como nós perdoamos
As maldades do patrão
E ajudai a nos libertar
Das garras do regatão
Amém!


Os Dez Mandamentos da Amazônia
Jaime da Silva Araújo
Tyryetê Kaxynawá

1º. Amarás a Deus sobre todas as coisas e aos rios como a ti mesmo;
2º. Não defenderás a mata em vão! Pois ela te fornece muitos alimentos;
3º. Conservarás as florestas virgens, pois Deus as criou para todos;
4º. Respeitarás a flora, a fauna e todas as formas de vida florestal;
5º. Não matarás, a não ser para alimentação ou por legítima defesa;
6º. Não pecarás contra a natureza destruindo os animais, seus filhos;
7º. Não deixarás os inimigos ferirem teu solo, condenadoo
à esterilidade;
8º. Não trairás os teus princípios, apoiando o falso progresso que justifica os crimes;
9º. Não desejarás para ti, venenos que aumentam a tua produção, mas matam árvores
e os animais;
10º. Não cobiçarás para ti, aparelhos modernos, para não poluir o ar, nem destruir a
paisagem, pois a terra em que vives pertence também aos que ainda não
nasceram.
Estes dez mandamentos se encerram em dois:
Amar a Deus sobre todas as coisas e a Amazônia como a ti mesmo.










sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mobilização: Vida e obra de Tyryetê Kaxynawaá

01/03/07
Mobilização: Vida e obra de Tyryetê Kaxynawaá

por Daniela Diniz *

Ao buscar histórias para este trabalho, eu não poderia imaginar que entre os frios ventos de uma Curitiba subtropical, fosse possível encontrar a narrativa de um índio nascido na selva amazônica e criado entre os seringais do Acre e o sertão do Ceará. Isto aconteceu quando entrei em contato com a Malasartes, Instituição da Audiência Compartilhada do Paraná. Quando falei do trabalho da mobilização comunitária do Futura, imediatamente me falaram de Tyryetê Kaxynawaá, um índio com muitas histórias para compartilhar e muita arte para exibir.

O trabalho de entrevista e levantamento geral de informações foi uma experiência inovadora, enriquecedora pela quantidade de novas informações sobre histórias conhecidas do nosso país e inspiradora, por poder ver uma pessoa comum que cresceu, enfrentou problemas, levantou-se, cresceu novamente, repetindo este ciclo de forma positiva, entendendo que esse processo faz parte do belo equilíbrio da vida de uma pessoa.

Sua vida começou na tribo Kaxynawaá, localizada às margens do Alto Rio Jordão no sudeste do Amazonas. Com a morte de sua mãe durante o parto, ele foi entregue pelo pai para um casal de seringueiros, que acabou levando-o para o sertão do Ceará. Aos 19 anos voltou para a sua tribo em busca das raízes, mas o convívio de quase duas décadas na sociedade branca dificultou muito a sua reintegração.

Neste retorno, conseguiu usar o conhecimento adquirido em sua criação nordestina para lutar pelos direitos dos povos da floresta, envolvendo-se em diversas questões políticas ligadas às causas dos seringueiros, culminando com sua participação nas propostas governamentais de criação de reservas extrativistas no 1° Encontro Nacional de Seringueiros. A conseqüência deste processo foi um convite para publicar seu discurso no livro Por um futuro melhor, e o início da disseminação de sua arte.

A vida política o levou a morar em Novo Aripuanã, às margens do Rio Madeira, onde tornou-se presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, fundou o Partido dos Trabalhadores e também uma Associação de Proteção ao Consumidor. Esta movimentação profissional levou-o a ser requisitado como representante em diversos encontros e seminários sobre a Amazônia naa América Latina e na Europa, além de ser um palestrante habitual na Universidade de Brasília.

Esta vida de lutas gerou uma grande contribuição para a preservação das matas e da atividade econômica de muita gente feita pela exploração sustentável dos recursos naturais, que hoje é buscada através da manutenção de 21 reservas extrativistas somente na Amazônia, além de ter possibilitado que fosse criada uma nova relação entre os seringueiros e os índios, que buscam a mesma coisa: conservar a biodiversidade da floresta e dos povos.

O passar dos anos o levou a conhecer Maria Alegrete, que de Curitiba dava apoio aos seringueiros e fundou o Instituto de Estudos Amazônicos, focado na assessoria a estes profissionais. O assassinato de Chico Mendes em 1989 levou Jaime Lerner – prefeito de Curitiba na ocasião – a requisitar o auxílio de Maria Alegrete para homenagear a trajetória deste seringueiro, criando a Casa do Seringueiro, a Escola Amazônica e o Memorial Chico Mendes dentro do Bosque Gutierrez, localizado no Bairro das Mercês. Tyryetê Kaxynawaá foi convidado por Maria Alegrete a participar deste projeto, indo morar na capital do Paraná e coordenando as atividades de educação, exposições e lazer que aconteciam nestas unidades.

Os anos seguintes não foram gentis para Tyryetê Kaxynawaá. A continuidade do projeto foi comprometida por questões políticas e o Instituto de Estudos Amazônicos acabou fechando suas atividades, encerrando um ciclo de iniciativas culturais em que Tyryetê estava envolvido. Desde 1994 ele está desempregado, buscando uma forma de voltar para a Amazônia e viver seus últimos anos junto da terra onde aprendeu a lutar pelos direitos dos povos da floresta.

A arte dos seringais levada ao Paraná

A arte nasceu na trajetória de Tyryetê Kaxynawaá como uma necessidade de comunicar, expressar e compartilhar suas idéias. Ao contrário de movimentos artísticos iniciados por motivações sociais ou comportamentos de uma época, a arte por ele praticada guarda semelhanças com a que foi criada pelos egípcios, babilônicos e nossas próprias tribos indígenas, com base na necessidade de preservar sua cultura através da impressão de histórias nos objetos de seu cotidiano.

Aprendendo a desenhar para fazer a capa de seus próprios livros, usou elementos aprendidos em sua juventude nordestina para contar histórias em forma de Cordel. Fez poesias para a cidade de Brasília e ilustrou diversos livros durante o período em que trabalhou no Departamento Nacional de Cooperativismo (DENACOP, órgão do Ministério da Agricultura), criando o calendário “O Ano Agrícola”.

Possibilidades de Aplicação

Em uma sociedade como a nossa, onde muitas vezes a beleza percebida pela maioria da sociedade está estruturada em revistas de moda, em programas que criam celebridades efêmeras e um exagero de preocupação que às vezes até à morte pode levar, a arte desenvolvida por um homem que navega entre dois mundos desponta como uma visão diferente da beleza.

As histórias contadas por Tyryetê Kaxynawaá mostram um Brasil singular, forte e sensível. Essa produção toda pode ser usada como conteúdo para a programação do Canal Futura em várias temáticas complementares, não somente voltadas para questões indígenas.

Através de um projeto de estudo e disseminação da arte dos povos da floresta, este tema pode ser trabalhado, fazendo uma associação entre a produção cultural da Região Amazônica e a visão dos brasileiros sobre este resultado. É possível que tenhamos excelentes surpresas ao perceber que a Festa do Boi é somente uma ponta deste gigantesco caldeirão cultural que foi formado ao juntarmos índios e brancos no interior da mata.

* Daniela Diniz é mobilizadora regional do Canal Futura no Paraná.